sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dos bons momentos...

Dizem que a vida inteira passa diante dos seus olhos quando você está para morrer. Não é só neste momento. Quando estamos perto de conquistar algo que sempre desejamos e a felicidade encontra-se logo ali ao lado. Talvez, neste momento, pensou Gilda, é onde podemos realmente nos encontrar com algo mais profundo. Neste momento quase sublime, ela, com quase trinta anos, poderia realmente ser descrita como uma mulher feliz.

Lembrou-se de tudo o que tinha lhe acontecido. Das dificuldades financeiras para se graduar na universidade e de como batalho para fazer sua pós-graduação para poder alcançar um lugar ainda melhor dentro da empresa em que estagiou. Veio à sua mente como o seu chefe tinha lhe sugerido que se fosse amante dele, poderia subir mais rápido. Fez o que poucas tiveram coragem: denunciou-o ao seu superior. Poderia ter sido demitida, poderia muita coisa ter acontecido... Mas ocorreu o que ela esperava: a justiça foi feita.

Pela sua coragem, foi até alçada a um cargo mais elevado. Ela batalhou muito. Teve, contudo, algumas decepções amorosas, como todos. Um noivado que havia acabado por seu noivo ter tido um romance secreto com a sua prima - a qual era irmã de criação - este foi o que mais lhe impingiu dor. Ajudara-a em toda a sua criação e na capacitação profissional e ali era dera o cavalo de tróia inesperado. Segurou a onda e continuou seguindo em frente.

Encontrou Pedro Henrique em uma cafeteria, em uma segunda-feira cinza, típica da que é seguida de um feriado emendado. Ela havia derramado café em seu terno. Ele sorriu e limpou, com a ajuda dela. Pediu, ao menos, que ela lhe pagasse um café. Ela encabulou-se com aquilo tudo e pagou. Conversaram durante alguns minutos sobre amenidades. Trocaram algumas figurinhas da infância, falando sobre programas de tevê e brincadeiras que tinham. Ela despediu-se, atrasada para o trabalho.

Passaram a se encontrar casualmente ali e começaram uma bela amizade. Dois meses depois, o toque eventual na mão, os olhares de ambas as partes, a ansiedade para que se encontrassem denunciava que era bem mais do que isto. Pedro Henrique tomou coragem e convidou-a para jantar. Ela, ainda ruborizada, aceitou. Daquela noite em diante, passaram a namorar. Comemoram cada promoção que ela tinha, assim como quando ele passou para ser analista do Ministério Público da União. Foi neste dia em que a pediu em casamento.

Ela, depois de tudo o que havia passado, tinha certeza de algo: do relacionamento sincero, onde não havia mentiras. Ela confessou tudo o que havia acontecido com ela em sua vida - até um caso homossexual - e Pedro a havia entendido. Ele confessou que fora amante de uma mulher casada e ela também o havia perdoado.  De todas as tempestades que passaram juntos, de todos os reveses que enfrentaram... Ele sempre estava ali, um somente pelo outro. Magoaram-se, eventualmente, com coisas sem sentido. Faziam as pazes. Com ele, ela tinha algo do qual se orgulhava: ele era o seu Porto Seguro.

E lá estava ela: indo, no seu último momento de gestante, indo dar a luz ao Lucas. Somente chegou a este momento pela estrutura emocional que seu marido lhe oferecia. Passou as mãos na barriga, uma última vez, com a certeza de que aquela criança que logo estaria ali, era o fruto de uma felicidade sem igual. Respirou, uma vez mais fundo, antes de tomar o remédio para poder fazer a cesariana. E dali, dali a pouquinho mesmo... Realizaria o seu sonho de ser mãe.

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