segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Argemiro

Argemiro era o responsável por cuidar de estrelas do Setor 7BNNB - 0099; o nosso sintema solar. Seu trabalho era fazer com que elas brilhassem o mais nítido possível. Ria dos humanos cientistas, pois com todo o seu avanço, haviam deixado de reparar em como elas eram bonitas e o quanto deu esperanças para todos os homens, em outras eras. Mas esta aqui é uma Era Cinza, pensou, onde as esperanças se esvaem pelos dedos como areia no deserto e se perdem misturadas aos grãos da incerteza.

Em seus passeios, além de ornamentar as estrelas e dar-lhes luz, gostava de observar os seres da Terra, como um pequeno passatempo. Ficou particularmente encantado com uma cientista. O que o fascinou não era apenas o seu intelecto, mas o que tinha por dentro - uma doçura e compaixão com o ser humano - e os seus medos - achar que estava ficando velha e sua insegurança em relação a sua felicidade. Ela era como um motor industrial, desses que trabalham vários dias seguidos.

Observava que ela tentava ser feliz no seu cotidiano: procurava se relacionar com seus amigos no trabalho, procurava ter namoros e cuidar dos pais. Ah, e tinha cães. Matilde gostava da paz e da quietude que aqueles animais tinham por ela, sabendo que eles sempre poderiam ser fiéis a ela. Neste quesito, precisava demais da conta da segurança. Deixou alguns namoros para trás por vários motivos, mas o principal era o da segurança.

Ou como ela o camuflava. Argemiro percebeu a aproximação de Thobias, um rapaz que tinha tocado o seu coração. Ela permitiu que ele o fizesse, na verdade. O nosso observador até ficou exultante - ela agora poderia dar-se o prazer de ser feliz, de poder se entregar a um amor verdadeiro e com ele estabelecer laços. Laços que Argemiro tinha com Astelfa - mas que por causa do árduo trabalho, apenas se viam de éon em éon. Na verdade, a aproximação dos dois lembrava a sua amada. Matilde a lembrava dela.

Após terem se afetuado, se amado e formado uma egrégora entre eles, Matilde se assustou deveras com isto. Imaginava se podia ser feliz ao seu lado, o que deveria fazer... E se ele descobrisse algo de que não gostasse? E se ele pudesse magoá-la? Outros poderiam tê-la magoada, mas ele... Ele era especial demais para fazer isto com ela. Foi deste ponto em diante que tudo se degringolou. Ela pediu que ele saísse de sua vida.

Ele saiu. Sentido, machucado, magoado... Assim como ela também estava. Na verdade, ela estava até em um estado pior: ela não tinha tido a coragem de lutar pela felicidade de ambos, deixou que o medo a levasse pelo caminho escuro da negação. Argemiro aproximou-se da Terra, ficando sob aquele local. Nesta hora, permitiu-se ser humano de novo e escorreu uma única lágrima de sua essência; rezando por eles, fez-se uma chuva. Uma chuva meio esverdeada de esperança e meio cinza da dor do não-realizado. Matilde fez o mesmo, assim como Tobias.

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