sábado, 17 de julho de 2010

Rachel

Rachel estava tentando enterrar um grande amor. Começou a se afastar dele, pedindo um término. Daí poderíamos inferir que tudo estaria acabado e que ela própria teria virado a página daquela história. Estranhamente, para uma mulher tão decidida, fatos atípicos estavam começando a ocorrer em sua vida.

Crises de choro pela ausência do objeto amado. Falta de apetite. Perda gradativa dos estímulos sensórias de seus neuroceptores, com exceção dos nociceptores – este aumentava seus impulsos de uma maneira exacerbada. Visitava constantemente a página de contos dele e nem ao menos vou descrever a quantidade de vezes que acessava a página de relacionamentos dele.

Acrescentaríamos mais um sintoma: tinha percorrido em direção às terras estrangeiras, ansiando por vê-lo – não que tivesse marcado um encontro, mas buscava tê-lo por perto nos mínimos referenciais possíveis. Iria ela descobrir o caro de preço de se tentar conter a força do inconsciente. Desejava ser menos mecânica e mais botânica. Lembrou-se do Mágico de Oz e daria de bom grado o seu coração para o Homem de Lata; ela desejava arrancá-lo do peito, pois o mesmo a dilacerava por dentro.

Ela, ainda negando, buscava o afeto dele, como queria isto: mesmo que fosse através da dor. Ele lhe havia proporcionado tanto prazer, com as palavras certas nas horas exatas, os sussurros caprichosos ao pé de seu ouvido... E o tamanho do amor pulsante que ele nela introduzia pelas mais diferentes vias. Ela sentia falta de todas essas miríades de possibilidades, ainda mais por todas as prometidas e não realizadas.

Tinha a sensação de que tentava tampar o vazamento de uma represa com uma rolha; havia se emaranhado em sua própria teia. Se tentasse sair dali, teria que deixar uma pata ou duas. O que no início tinha vindo como uma brincadeira de criança, evoluiu a um jogo de adultos até se locupletar na devassidão dos amantes. Pensou numa ridícula situação: ela, que tinha acabado por terminar com ele, por medo de ser feliz, poderia não mais tê-lo por medo que ele tivesse de se machucar caso mudasse de idéia.

Transtornou-se com este mero fato. Ela tinha tocado o seu coração, e, mais ainda, deixou que ele tocasse o seu, derretendo as mulheres gélidas por ela erigidas. Sentia-se acuada e pequena. Lembrou-se da música do Renato Russo: “ Te ver é uma necessidade / Vamos fazer um filho.” Após isto, verteram lágrimas mais intensamente do que antes, coisa que ela já achava impossível: cria que já não tivesse mais lágrimas de tanto que já tinha se debulhado nelas.

Fazia dias que dele não tinha notícias, dias que pareciam imensas eternidades. Rachel nunca saberia as coisas que poderiam ter acontecido. Iria odiar-se descobrisse o fato de que ele quase fora no mesmo lugar que ela, em suas terras, mas não teve coragem de sair da cama pela dor que a separação lhe impingia. E o mais interessante... O que ela faria se o visse? Já o procurava em todos os lugares de lá, desejosa disto; queria encontrá-lo "por acaso", para que não parecesse que havia ido lá só para isto.

E também nunca saberia que o seu amado, ao sair do trabalho às quatro da tarde, procurou o corcel negro de sua donzela e assustou-se ao encontrá-lo: porém, não o dela. Ele não entendia o porquê daquele sofrimento, o porquê da separação. Resignou-se ao pensar que ela achava que nunca o faria feliz ou que faria a ele coisas horríveis. Só assim para poder ele prosseguir em sua seara. Poucas lágrimas rolaram pelo seu rosto... Ele, agora, já estava ficando sem elas.

1 comentários:

Vera disse...

tadinha de Rachel ....rs..rs..rs..

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