quinta-feira, 15 de julho de 2010

Joseanne

Joseanne estava sofrendo. Mesmo sendo uma mulher competente profissionalmente, nos altos dos seus trinta e três anos, ela sofria de amor. Havia tido a oportunidade de provar um amor tão puro e belo, mas resolveu não apostar suas fichas nele. Nos aproximadamente seis meses que vivenciou esta experiência, sentiu-se a mais valorizada das mulheres. Não havia palavras para poder descrever o que sentia: o seu antigo parceiro conseguia realmente a deixá-la nas nuvens.


Ela, porém, sentia-se insegura em relação justamente a medida deste amor: se ela amava-o tanto, qualquer coisa, por menor que ele fizesse, poderia abalar a concepção dela na experiência deste amor. Um dia, como todo casal, discutiram por uma infinidade de pormenores. Pequenas coisas, do dia-a-dia. Após a discussão, tudo estava se aprumando. Foi quando ela se perguntou se deveria seguir adiante.

Não é que não mais se visse como mulher daquele jovem, não mais que ele não o fizesse feliz ou, tão pouco, que o amor deles não fosse verdadeiro: ela simplesmente cogitou a possibilidade de um dia ele ir embora. O que ela faria quando o outro vai embora, deixando claro que não poderia dar mais certo. Ele sempre dissera isto:

- "Tem que estar bom para os dois, senão tem que conversar. As coisas sempre se acertam enquanto ainda nos amarmos." - dizia ele, carinhosamente e sorrindo.

Isto tudo parecia-lhe estranho. Um amor tão grande... Como faria se fosse perdê-lo? Em nenhum abrigo poderia recorrer, o seu tão querido e caro amor tinha ido embora. Tinha ido? Nada disto ainda sequer tinha acontecido, mas isto... A possibilidade de perdê-lo depois de algum tempo já a vinha assombrando. Resolveu, então, como toda boa médica, tolir o mau pela raiz: dispensou o seu tão caro amor.

E ele foi embora, choroso, triste e nauseabundo. Ela tinha tomado a decisão certa. Chorou, bastante. Como poderia ter tomado a decisão certa se ela sofria? Procurou algo para ler, adentrando em sua biblioteca. Um de seus hábitos era ter vários livros em casa, além dos de medicina. Achou um texto sobre dor e amor. Obviamente, um autor de qualidade, ela sorriu, antes de, novamente, chafurdar-se em lágrimas.

Leu o quanto era importante o sofrimento ser apenas opcional. E era. Mas o sofrimento só poderia ser opcional, dizia o texto, quando se arriscava. Ela chocou-se, nunca gostou de se arriscar, sempre preferiu a vida reduzida a um status quo, algo controlável. Um trauma de infância da perda de uma tia a fez virar médica e ter sempre medo de perder alguém adorável em sua vida. Por isto, ela preferia terminar do que a pessoa ir embora.

Sentou em sua poltrona, admirada. Colocou as pernas pra cima, ajeitando-se. Apoiou a sua cabeça no braço e lágrimas rolaram. Ela não tinha feito tudo o que poderia para poder assegurar o seu presente feliz. Não sabia o que fazer. Lembrou-se do filhote de elefante que fica preso por uma corda a um pedaço de madeira. Depois de algum tempo, ele já é adulto e, mesmo assim, continua ali preso por achar que aquilo o detém.

Balançou a cabeça, estava cheia. Queria esvaziá-la de algum modo. Dirigiu-se ao seu som e colocou uma música que a fazia lembrar dele: era natural, todas as músicas lembravam dele. Ele permeava cada essência do seu ser, mesmo estando distante. Foi, então, até a geladeira - o vinho com certeza a faria pensar de lembrar dele. Ledo engano. Sua tentativa infrutífera foi atirada nela mesma, pois lá estava a garrafa do vinho preferido do dois.

Sentia-se como uma mocinha, perseguida por fantasmas, em um filme de terror - fantasmas, contudo,  provocados pelo vazio de seu coração. Vacilava com sua decisão, questionava-se se era o melhor caminho a ter tomado em sua vida. Já não sabia mais se valeria a pena manter o status quo: eis que a razão afirmou prontamente que sim enquanto o coração veementemente... Ah, eles ainda iriam travar longos conflitos até uma solução. Se ela conseguiria arrancar aquele amor de seu peito ou se o amor iria fazer a razão mudar de idéia... Esta é uma curiosidade com a qual todos ficaremos.

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