quinta-feira, 15 de julho de 2010

Genésio

Genésio era um homem feito na vida. Tinha quase seus trinta anos e conservava um extremo bom humor e competência profissional. Sempre estava insatisfeito com o seu progresso dentro das empresas, desejoso a todo tempo de voar cada vez mais alto. Sentia um vazio, conquanto, ao chegar em sua casa e apenas ter o papagaio Pepe (tinha lhe sido dado por um amigo argentino) e uma secretária eletrônica sempre vazia. Todos que falavam com ele ligavam para os seus celulares - tinha três, ao todo.

Ele enamorou-se por uma médica um pouco mais velha do que ele. A princípio, a relação poderia ser resumida a "Fogo e Paixão", do Wando, no sentido de como era ardente o amor entre eles. Já o vocabulário proferido pelo casal, poderia se encontrar entre um dos mais peculiares do Dicionário: trocavam palavras difíceis como quem troca olhares de amor. E assim, foi-se indo a relação deles, até um dos dois inevitáveis fins: ou a morte de um, ou a morte da relação.

Ele não entendia a falta de vontade dela de mudar. Como poderia fazer de algo tão belo, um de cujus tão insipiente? Resignado, permitiu-se ficar triste. Era avesso a sentimentos, contudo naquele momento o que mais desejava era entender o seu presente. Não sabia exatamente como poderia fazer isto, mas sabia que poderia realizar de alguma forma. Lembrou-se, então, de uma antiga namorada de infância. Ligou para ela com o pretexto de pegar algumas fotos antigas.

Após um reluto dele em adentrar o domícilio dela, ele ficou alegre com a capacidade como foi bem recebido: não esperava isto, pois fora ele quem tinha extinguido a relação. Ela, então, perguntou a ele o que havia acontecido. Chorou feito criança, sendo acolhido por aquela mão amiga. Conversaram bastante, sobre tudo o que havia para ser dito sobre o problema dele e também sobre a relação dos dois. Houve uma pausa breve, um sorriso tênue por ambas as partes.

Sabiam que tinham encerrado a carreira deles como homem e mulher, entretanto estavam ali para um ajudar o outro. Sentiram-se felizes. Ele a levou ao emprego e desejou boa sorte no próximo relacionamento que ela estava esperando: uma apresentação despretenciosa para um amigo, de uma amiga. Ele sorriu e lembrou que parecia algo de adolescente, quando se ficam paquerando de um lado da festa até que um dos dois tem coragem para poderem conversar. Ela também sorriu e despediu-se.

Genésio tinha ido ao passado e agora entendia pelo que sofria. Ouviu várias histórias e seu dia estava, de triste, se transformando em atípico. Não sabia quantas nuances poderia esperar para algo tão diferente. Sabia, aliás, que o inevitável futuro estava chegando. Ele viria zunindo, como um mosquito que te acorda à noite, demonstrando a sua existência. Seria, porém, mais alegre do que o presente, isto com certeza. A beleza de se esperar pelo futuro é sempre o de que algo novo pode acontecer. E, se me permitem uma licença poética enquanto narrador, bem mais cedo do que se imagina.

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