quinta-feira, 8 de julho de 2010

Astolfo e Marialva

Astolfo estava lembrando, nesta tarde, como ele gosta de Marialva. Chamava-a simplesmente de Alva, pois assim era a sua pele. Alva também era a sua atitude perante a vida, sempre cheia de amor e compreensão pelo ser humano. Seu cheiro era o de flores do campo, dando ainda mais suavidade a um rosto firme, porém cheio de carisma. Seus olhos eram o que mais impressionava Astolfo: pareciam dois poços de petróleo, sempre valiosos e também voláteis.


Tinham um bom relacionamento: estavam juntos há pouco mais de dois anos. Ambos trabalhavam e eram competentes profissionalmente, cada um em sua área: ele, um arquiteto em franca ascensão, e ela era uma já mais solidificada engenheira. Conheceram-se em um congresso patrocinado pelo CREA-RJ. No almoço, sentaram ocasionalmente ao lado um do outro. Ela, com sua melhor amiga e ele, com seu melhor amigo. Um buscava ver o outro enquanto o outro não estava percebendo.

Ao final do congresso, de novo ocasionalmente se encontraram na saída. Nenhum dos dois tinham ido de carro e chovia muito. Ele fez sinal para o táxi e, ao perceber que ela esperava um, iria cedê-lo para Alva. Ela sorriu e perguntou se não teriam a sorte de ir para o mesmo lado. Ele, meio enrubescido, falou que iria para a zona sul. Ela também. O bairro era o mesmo. Sorriram-se e foram conversando no meio do caminho.

No próprio caminho, devido ao tamanho engarrafamento, resolveram parar e comer em algum lugar. Comeram pizza (que ela até hoje adora, especialmente fria, no café-da-manhã) com um vinho espumante tinto, escolha de Astolfo. Ele sabia, de algum jeito, que ela gostaria do vinho. Quando Astolfo foi lhe servir mais, ela tocou de leve a sua mão. Os dois pararam e somente os olhos se buscavam. Um oceano de sentimentos foi derramado entre eles.

Beijaram-se, de leve, como se quisessem descobrir um ao outro. Estranho foi como suas bocas se encaixaram de maneira precisa e eficaz. O beijo quente e molhado dela era absorvido pela boca dele. Trocavam os papéis durante aquele enlace. Ruborizaram-se ao ver que haviam constrangido um casal de senhores na mesa ao lado. Riram-se deles mesmos e foram para a casa de Astolfo.

Foi uma noite mágica e inenarrável para ambos. Fizeram tudo aquilo o que aquela recém-intimidade permitia que fizessem. Foram ousados, em alguns aspectos, coisas típicas dos amantes certos que se encontram. Riam, dizendo que eram do mesmo planeta, por gostar muito da arte de amar. Ele virou-se e disse apenas fauno. Ela riu, tocou seus lábios com o dedo indicador da mão direita e lhe disse fauna.

Não pararam de se amar todo este tempo. Porém, nem tudo são flores. Mal sabia Astolfo que, ao pedir um compromisso mais sério, teria colocado Alva em uma posição difícil. Ela não contara para ele a história de que havia sido abandonada no altar. O noivo havia optado por ficar com uma namorada anterior a ela. A casa, as mobílias, tudo foi vendido e dividido. Alva não queria saber mais de compromissos sérios.

Discutiram aquela noite. Expuseram, um ao outro, seu ponto de vista. Astolfo, enfim, tomou a decisão mais difícil: resolveu deixar Alva refletir sobre tudo aquilo. Ela, chorosa, pegou suas coisas e saiu de seu apartamento. Para dormir, o vinho foi sua companhia. Riu da ironia de que teve que tomar a garrafa do espumante preferido dela para poder cair nos braços de Morfeu. Sentido, acordou o dia seguinte com aquela típica ressaca dos Diabos.

Resolveu, então, caminhar um pouco. Andou, correu e chorou um pouco. Tomou sua média, pão na chapa e suco de laranja no barzinho que tanto gostava. Ao chegar em casa, olhou o celular, procurando alguma ligação, algum sms, algum e-mail... Não tinha nada. Resolveu não ficar em casa. Tomou banho e foi ao supermercado.

No meio do caminho, ao ligar o rádio, escutou a música que ela uma vez tinha lhe mostrado. Falava do quanto ela precisava dele naquele momento, do quanto ela temia que não fosse importante para ele, do quanto gostaria de ligar para ele, ... Amaldiçoou o destino por um segundo, depois sorriu: se a música dizia isto, quer dizer que havia uma possibilidade da sua mulher fascinante ligar para ele. Ele iria esperar, então, com sua típica ansiedade que se mostra através de sua gastrite. Iria esperar porque sabia o quanto ela era especial para ele e se, ele fosse metade do quanto ela significa para ele, ela iria ligar. Ele iria esperar o tempo dela, como um cavalheiro.

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