terça-feira, 13 de abril de 2010

Romualdo e Thania

Romualdo era um jovem sonhador. Se pudéssemos entender como ele é por dentro, seu específico e interessante funcionamento, poderíamos entender que ainda havia no mundo muitos Dom Quixotes, ou pelo menos um deles, que enfrentariam seus próprios moinhos de vento como se fossem gigantes.


Romualdo era o típico canceriano: se apegava demais às pessoas as quais gostava, as defendia com todo o clamor de uma guerra épica e heróica, típica dos contos gregos. Era tão particular seu mecanismo de funcionamento que colocava todos acima de sua própria importância, não importando em qual tipo de relacionamento fosse.

Nos relacionamentos amorosos, então, poderíamos falar que o amor de Romeu e Julieta era parco em relação ao que ele sentia pela pessoa que estava ao seu lado. Tratava-a sempre como a rainha de um castelo imaginário, com paredes aconchegantes, quadros emolduradas com sonhos, tapetes de amor, cadeiras de conforto e um perfume doce e agradável de companheirismo.

Amava demais. Sofria também demais. Não sabia a hora das medida, das dosagens. Sua adolescência foi marcada por paixões desvairadas, rompantes de comportamento... Tudo isto amadureceu um pouco na sua fase um pouco mais adiantada do jovem adulto. Sempre buscou a serenidade no diálogo, o carisma na personalidade e uma busca por uma auto-confiança peculiar baseada no seu se importar com o ser humano. Buscava sempre a sua realização também pelo outro, de preferência junto com a sua.

Romualdo não se apaixonou durante um tempo. Continuava a trabalhar e estudar, tinha amigos. Poucos, mas bom amigos. Sua vida não era ruim, visto que era de classe média e ainda morava com os seus pais. Como todo jovem adulto da atualidade, Romualdo precisa de muito mais esforço do que seus pais para deixar aquele ninho. E, como para um canceriano isto é difícil, Romualdo buscou fazê-lo da melhor maneira possível e, possivelmente, da mais tranquila e um pouco vagarosa.

Foi quando se apaixonou no Carnaval. Tinha encontrado a mulher mais fascinante de sua vida. Descrevê-la aqui seria inútil, pois levaria dias, meses, para poder descrever uma mulher com tamanha beleza exterior e interior. Trocaram palavras, várias delas, por imensas horas. Passaram uma grande quantidade de tempo juntos. Amaram-se da maneira mais deliciosa e louca possível para quem realizou isto no primeiro encontro. Gritos, sussuros, prazeres. E o beijo, ah, o beijo... Como era doce e envolvente quando suas línguas se cruzavam, entrelaçavam. Era como se o beijo dele fosse esculpido para o beijo dela.

Com o tempo, as juras de amor foram gradativamente aumentando. De um querido, para paixão, para amorzinho. De repente, não mais do que de repente, surgiu um pronome possessivo: MEU. Thania tinha dito isto para ele em um momento distraído, típico ato falho, no qual mostramos mais do que gostaríamos por medo de nos entregar a algo que, na verdade, já estávamos entregues.

Romualdo sorriu. Fingiu que nada percebeu e deixou passar. Aumentaram os carinhos, as carícias, o se importar. Thania lhe dizia o quanto nunca tinha conhecido alguém como ele e Romualdo, gentil com suas palavras acuradas, dizia: - "Eu faço o que faço porque consigo enxergar você através dos meus próprios olhos. Queria colocar você dentro da minha cabeça para que você pudesse ver o que eu vejo, sentir você como eu sinto.". Neste singelo momento, lhe estendeu uma única rosa vermelha. Thania ruborizou-se. Amaram-se intensa, louca e desregradamente. Por horas. Literalmente, horas.

Porém a vida não é um conto de fadas. Por vezes, acontecem coisas inexplicáveis, coisas que não cabem a nós, como leitores, questionar. Thania pediu um tempo para repensar a relação com aquele jovem romântico. Ela tinha outros fatores de risco em jogo, riscos inclusive financeiros, afinal era uma típica capricorniana. Sua dedicação extrema a Romualdo poderia lhe fazer riscos e ela não é do tipo que corre riscos. Será?

Romualdo resolveu acatar este tempo. Amava demais aquela mulher para que não entendesse a dor e o momento conturbado da vida dela. Tentou ser forte, não derramar uma gota de lágrima ao pegar no telefone. Respirou fundo. Em vão. Ele chorou. Ela também. Trocaram juras de amor, honestidades, dores... Tudo o que uma relação de verdade tem. A relação dos dois era tão sublime e desconcertante que era uma definição difícil de se obter, quase como se fosse algo de conto de fadas. Algo puro e belo, carnal e especial.

Ao final disto, Romualdo foi seu companheiro. Entenderia o que tivesse que acontecer, do jeito que tivesse que acontecer. Não importava o quanto aquela mulher fascinante pudesse fazer falta em sua vida. Romualdo estava determinado a esperar a resposta que a sua companheira fosse lhe dar. Desligaram o telefone. Sofrem os dois, porém agora em silêncio, sofrem para si. Um, da agonia da espera e a outra, da possibilidade da resolução.

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